O diário de Angélica Neves

07/02/2013 – Quinta-feira

   Mais uma manhã de sol em nossa querida Piracicaba, interior do Estado de São Paulo. Lucio, meu filho, acordou às 6hs para ir à escola. As aulas começaram na última segunda-feira e, embora esteja no último ano do ensino médio, ele ainda levanta animado. É claro, ele tem vários amigos lá. Eu me simpatizei com todos eles quando vieram em casa. No grupo de Lucio tem 2 meninas e 3 meninos, contando com ele. Eles são gentis, não sujam a casa (rsrs) e comportam-se muito bem.

   Já o meu marido, João Ronaldo, tem o privilégio de poder dormir até perto das 9 horas da manhã. Ele trabalha na redação do Jornal do Interior, bem conhecido na cidade. Ele gosta muito desse emprego, mas eu tenho percebido que, ultimamente, ele anda se cansando mais do trabalho. Espero que seja apenas cansaço pelo tempo que ele está trabalhando lá. Na próxima segunda-feira, dia 11, ele estará completando 12 anos lá. Ele é querido pelos seus mais de 20 colegas de trabalho.

   Lucio chegou mais cedo da escola neste dia. A professora que daria aula nos dois últimos períodos não foi, mas também não disseram o motivo, apenas dispensaram os alunos.

   Eu amo meu filho. Ele aprendeu a cozinhar cedo e aproveitou o tempo em casa para preparar um almoço mais “caprichado” hoje: feijoada.

   Para a minha admiração, ele se saiu muito bem. Até deu uma corridinha no açougue para buscar a linguiça.

   Mais tarde, como não acontecia a muito tempo, Ronaldo chegou feliz do trabalho. Disse que seu chefe lhe deu um prêmio pelos 12 anos na empresa, e também um mês de férias “grátis”, sem que precisasse completar um ano de serviço. Me senti muito feliz, e lembrei o quanto eu amo vê-lo em casa.

08/02/2013 – Sexta-feira

   Ah, como eu gostaria de poder ver mais um dia de sol, como aconteceu no dia anterior! Porém esse dia nasceu bem diferente: muito nublado.

   Ronaldo acordou mais cedo, com uma dor de cabeça aguda. Pelo que me lembro, ele nunca teve essa dor antes. Não tinha remédio em casa e ele teve que sair para ir comprar na farmácia. A mais próxima de casa ficava a uns 8 quarteirões. Não sei porque o carro não funcionou, e Ronaldo teve que ir a pé mesmo. Fiquei triste com essa situação e comecei a refletir: porque às vezes coisas simples ficam complicadas? Quase chorei, mas consegui me conter, como eu sempre fiz para me mostrar uma mulher forte, mesmo diante de situações tristes, e eu quero que meu filho tenha de mim a imagem de uma mãe forte, que lutava pelas coisas, como eu costumava demonstrar para o meu marido, pelo menos na presença dele, pois no meu cantinho eu me desabava em lágrimas.

   Me assustei quando olhei para o relógio! Já eram 8 horas da manhã! Eu não vi Lucio sair para a escola. Então pude chorar um pouco. Fiquei sentada no sofá esperando o Ronaldo voltar da farmácia.

   Cada minuto que passava eu ficava mais preocupada. Lá fora o tempo estava escuro. Comecei a ouvir trovoadas. Pensei em sair e ir atrás do Ronaldo para ver o motivo da demora, porém não deu tempo de levantar do sofá. Começou a chover muito forte.

   Tudo o que eu pensava era no Ronaldo, queria muito saber onde e como ele estava. Já se passaram mais de três horas e ele ainda não havia voltado pra casa.

   Fiquei angustiada a manhã toda esperando meu marido voltar para casa, as horas foram passando e ele não voltava, e a chuva, embora tivesse se acalmado um pouco, não parava.

   Até que, perto do meio dia, apareceram em casa Ronaldo e Lucio, para a minha grande surpresa! Graças a Deus estavam bem. Ronaldo havia saído para comprar remédio e acabou indo direto para o trabalho. Entrou mais cedo, e isso o possibilitou vir para casa almoçar.

   Fiquei bem mais tranquila, após o sufoco passado pela manhã! Tenho muito medo que algo aconteça a eles.

10/02/2013 – Domingo

   Ontem resolvi não escrever nada pois foi um dia tranquilo. Normalmente aos sábados todos ficam em casa mesmo, não temos o costume de sair passear, somos bem caseiros, quase sempre fomos. Antes de ter o Lucio nós costumávamos sair para visitar parentes, nos reuníamos em chácaras de amigos, mas depois que o Lucas completou 3 anos de idade, não pudemos mais sair… enfim, deixa pra lá.

   Foi um sábado ensolarado, mas não muito quente. Toda aquela chuva da sexta-feira acabou deixando o clima mais agradável.

   Lucio gosta de ficar no computador, conversando com seus amigos. Como não entendo dessas coisas, não sei como ele consegue fazer isso. E ele não usa o telefone, é só o computador mesmo. Eu parei de acompanhar lá pelos anos dois mil, quando trabalhava como recepcionista no Hotel Nacional daqui da cidade e precisava usar o computador para fazer os registros dos hóspedes.

   Mesmo caseiros, costumamos manter o contato com nossos familiares. Os pais do Ronaldo ainda estão vivos e sempre estão conversando pelo telefone. Como eles moram longe, raramente o Ronaldo vai pra lá. Minha mãe ainda liga para conversar. Ela gosta muito do Lucio, e ele fica muito feliz quando ela começa a contar as histórias de vida dela. Isso me alegra muito! Espero que ela conte coisas boas a meu respeito quando eu tinha a idade dele!

   Após voltarem da igreja pela manhã, Lucio se ofereceu para fazer um almoço diferente! Eu já estava surpresa ao esperar o que viria por ali…

   Enquanto esperávamos na sala, Lucio se estava na cozinha preparando o que iríamos descobrir mais tarde: um lindo escondidinho de carne!

   Pelo menos a aparência estava ótima, e mais uma vez me enchi de alegria ao ver meu filho se desenvolvendo dessa forma, preparando o almoço!

   Durante a tarde o telefone tocou e Ronaldo atendeu. Após uma breve conversa preocupante, Ronaldo saiu de casa, um tanto apressado. Lucio não percebeu pois estava em seu quarto estudando. Mais um tempo para ficar preocupada sem saber o que estava acontecendo… Mas procurei me tranquilizar, pois eu sei que em breve Ronaldo voltaria e eu ficaria sabendo o que houve. Talvez alguém tenha passado mal e ele precisou ir ajudar, fiquei pensando.

   Mais tarde, perto de escurecer, Ronaldo voltou para casa, finalmente! Eu estava apreensiva, mas passei a tarde toda pensando em outras coisas, lembrando de coisas boas e felizes para não cair no choro de tanta preocupação.

   Mesmo assim houve algo triste. Seu Agenor, dono da padaria daqui do bairro, passou mau e a filha dele, Julia, ligou pedindo ajuda. Ronaldo era muito amigo dele. Na época da escola havia sido aluno dele, e depois que aposentou, abriu a padaria onde trabalhava todos os dias, sempre feliz e de bem com a vida.

   Então eles levaram seu Agenor ao hospital, e depois de um tempo sendo avaliado ficaram sabendo que ele tinha sido acometido de um mal súbito, falecendo após algumas horas depois. Foi uma tarde bem triste…

12/03/2013 – Terça-feira

   Eu não gostaria de ficar escrevendo o motivo de eu ter deixado de escrever um dia ou outro… mas é que ontem eu fiquei o dia inteiro triste. Faz muito tempo que venho escrevendo esse diário, e a impressão que tenho é que não servirá para nada, que é inútil ficar escrevendo. Mas no momento é a única forma que tenho de expressar o que sinto, o que vejo acontecer em minha linda família, é a forma que me sinto bem me expressando. Gostaria que um dia alguém possa ler minhas memórias, mas fico muito triste ao pensar que não conseguirei mostrá-lo a ninguém, principalmente ao meu filho.

13/03/2013 – Quarta-feira

   Respirei fundo e resolvi continuar escrevendo. Me inspirei em meu filho. Ele é muito precioso e fico orgulhoso em como ele está avançando, crescendo, e meu marido tem sido fundamental ao ensiná-lo as coisas da vida. Afinal, quem seria melhor ao ensinar coisas de homem para um homem do que um homem?

   Lucio voltou da escola feliz. Ele e mais alguns alunos foram desafiados a participar de uma maratona de matemática na próxima semana em São Paulo. A cidade fica a duas horas daqui, e meu marido irá com ele. Junto irão mais dois amigos da classe do Lucio. Por mais que ele não ganhe, pelo menos é um início, algo que já mostra a inteligência e a disposição que meu filho tem para essa área. Eu nunca me dei bem com matemática, sempre gostei de estudar a parte das plantas e animais, me interessando mais pela biologia.

Sendo assim, eu não poderia ajudar o Lucio nessa área. E para ser sincera, meu marido também não! Ele está mais ligado na parte de jornalismo, sempre gostou da área de literatura e história.

   É muito bom ver que meu filho está seguindo por uma área que nunca foi do domínio de seus pais e está indo bem! Isso me alegra e me tranquiliza.

16/03/2013 – Sábado

   A tristeza me pegou novamente. Ao mesmo tempo que fiquei feliz em saber que meu filho irá participar de algo grandioso, fico triste em não poder acompanhá-lo e ficar torcendo por ele, dar um abraço e, se for o caso, ampará-lo caso ele não ganhe o prêmio máximo.

   Fiquei muito triste, chorei muito, muitas lembranças boas mas essa impossibilidade que sinto de não poder estar mais próximo ao meu filho me dá uma angústia muito grande!

   Espero que meu marido possa continuar desempenhando esse papel de amigo dele, de companheiro, como ele tem sempre feito, desde que Lucio nasceu, e principalmente após ele ter completado 4 aninhos de vida…

   Que saudade…

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